segunda-feira, 12 de março de 2012

Saudades

Lendo a notícia do Agile, fico pensando o quanto perdemos nesses anos de indústria automobilística.
Antes que me tachem de uma pessoa que ama velharia e detesta tecnologia eu peço que ponderem e reflitam.
Óbvio que não vou comparar a tecnologia embarcada num Fiat Uno de 1986, com a de um Hyundai Azera. É burrice. Mas vamos analisar o contexto.
Com o fim da Segunda Guerra, o Brasil volta-se para a indústria interna e de bens...as montadoras começam a se abancar aqui e a produzir utilitários, ônibus e comainhões.
Com a importação que é vigente desde o início do ciclo do automóvel no Brasil, o governo decide proibí-las e forçar o país a produzir dseus meios de transporte. Claudicante, a indústria nacional começa a produzir alguma coisa...
Na época, tínhamos carros que eram verdadeiros sonhos de consumo, como o Willys Interlagos (Renault Alpine A108, fabricado sob licença). Depois, vieram os Chrysler Esplanada e GTX(de design um tanto polêmico). A Ford arematava a Willys-Overland e ganhava projetos da Renault que dariam origem aos Corcel I, II e Del Rey. A Chevrolet resolveu fazer uma mistura do Chevrolet Nova com o Opel Rekord B: nascia o Opala. Vendo o sucesso de vendas, a Ford apressou-se em lançar o seu pony car: vinha o Maverick. A Chrysler do Brasil não comeu poeira e lançou o Charger e o Le Baron. A VW lançava o Karmann-Ghia, um verdadeiro expoente de desenho elegante. Hoje, todos esses carros são amados por seus donos. À época, eram sonhos de consumo.
Sonhos por sonhos, não podemos deixar de falar dos Gol GTi/GTS, do Uno 1.5R, nem do Monza!
Claro que a lista não tem a intenção de ser um estudo completo e abrangente, mas não posso me furtar de citar os Miura, Gurgel e Puma.
E hoje?
Com a abertura das importações, viu-se o abismo que separava a indústria nacional e estrangeira. Collor rotulou muito erradamente nossos carros, como sendo "latas-velhas" e "carroças".
O que tínhamos à época é o que podíamos ter. Era o que a indústria, estagnada por impostos abusivos, inflação galopante e ingerência governamental(isso está tão atual...) podia fazer.
Por um tempo após a abertura do país, tivemos muitas marcas novas. Mas como todo o movimento feito sem uma base sólida, diversas marcas sumiram da noite para o dia, deixando seus clientes na mão. Foi assim que aconteceu com os carros da Buick, Cadillac e mesmo com os pés de boi da Lada.
Já os nossos carros não podiam competir em termos tecnológicos pois as fábricas fora daqui estavam anos-luz à nossa frente. A abertura pura e simples do mercado ditou o fim de muitos carros que ainda tinham muito pela frente como o Opala e alguns carros fora-de-série.
Alguns anos após a abertura, nossa indústria estava se readequando ao mercado e, uma grande felicidade, montava e trazia carros em fase com os que eram vendidos no exterior. Não havia diferenças gritantes entre as versões dentro e fora do país.
Novas fábricas até começaram a se instalar no país, quando, subitamente, o brasileiro parou de exigir carros realmente admiráveis.
Inundando as ruas com projetos "para popularizar o automóvel", o que vemos é que não há carros populares(e sim, carros pelados que custam uma fortuna!). Vemos carros que viraram uma commodity. Algo passageiro. Não vemos uma indústria automotiva dinâmica, que siga as tendências. Querem exemplos?
Astra daqui(em cima) e o alemão(embaixo):
O Corsa daqui(acima) e de fora
O nosso Golf(um remendo da geração de 2000, acima) e o deles
O Vectra, eu nem vou comparar, pois é covardia. Enquanto neguinho tirava onda com Vectra zero(nada contra o Vectra, e sim com tirar onda com ele), a Opel já tinha versões muito adiantadas do carro e o substituiu pelo Insignia antes mesmo de termos fechado a linha brasileira para se trazer o Cruze. Para quem ainda não sabe, desde os anos 2005 que o Vectra brasileiro está defasado até que chegou ao fundo do poço de virar um Astra europeu com nome de Vectra...

E agora temos essa verdadeira invasão chinesa...
Cara, vocês realmente acham que esses carros vão durar? Vocês acham mesmo que eles vão lhes proteger tanto quanto um carro nacional(ou importado de outro país) numa colisão?
Antes de acharem que estou sendo preconceituoso, olhem a seguinte foto:
Isso é a configuração de fábrica do Chery S18(parecido com o nome da nossa S10, né?). O lote TODO foi recolhido para ajustes. Porra, como essa bosta sai de fábrica assim? É carro pra deficiente físico? Como ninguém na China notou isso? Ou simplesmente eles não se importam? Detalhe: a S18 é a cópia da Chevrolet Colorado.
Na época, a Chery limitou-se a garantir que “todos os ajustes necessários seriam realizados antes do lançamento”. Contatada novamente após o ocorrido com a unidade avaliada agora, a empresa afirma que um lote de S-18 foi encomendado logo após o anúncio da nova política de tributação de IPI. E que por equívoco, o fornecedor chinês dos pedais produziu e entregou o componente sem as alterações determinadas pela engenharia da montadora, que incluem um reforço na haste e uma nova fixação em “L”.Tá que seja um erro do fornecedor vá lá...mas ninguém na maldita linha de montagem notou que os pedais estavam tortos? Durante os testes de rodagem, ninguém pensou que, por um motivo qualquer, os pedais são paralelos e alinhados? Vão tudo se f%$&!!!!
A gente parou de exigir carros bons e a nova geração já convive num mundo em que um carro top é um i30... Desde quando a gente ficou idiota? Sério! Alguém me responda! Estamos num mundo em que a gente não se importa em comprar um carro com um acabamento ridículo de fábrica, como os primeiros Fox. Apesar de termos acesso a mais informações, estamos sendo burros em achar que estamos fazendo um bom negócio hoje ao comprar um carro 0km por causa da garantia. Compramos o carro enquanto estamos na garantia, expira a garantia, compramos outro carro e assim, sucessivamente. Poxa, que bom que está todo mundo milionário para fazer isso. Mas acho que tem quem troque de carro antes de terminar de pagar o veículo de que está se desfazendo. Só em raríssimas oportunidades, temos um automóvel com um custo-benefício interessante. E em nome de quê fazemos isso? A gente se aperta, pega hora extra economiza e na hora de entrar no show room a gente cai de paixão por um New Fiesta!? Está certo que o carro é bonito e tem Bluetooth, mas nada que mereça a paixonite nossa. Ele não é um divisor de águas. Ele não é um carro que fará história ou será colecionado. É só um carro bonito e normal, como quase todos que se pode adquirir novos.
Infelizmente, acordamos do sonho de poder entrar numa concessionária e sairmos com um carro que é objeto de desejo (fabricado localmente).
Outros tempos...

O autor precisa voltar a sonhar...

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